
ONU prevê tarefa monumental de recuperação na devastada Faixa de Gaza

O diretor de operações humanitárias da ONU, Tom Fletcher, avaliou neste sábado (18) a monumental tarefa de restabelecer os serviços básicos na devastada Faixa de Gaza, enquanto Israel e Hamas prosseguiram com a troca de restos mortais.
Durante uma visita à Cidade de Gaza, Fletcher destacou a magnitude da destruição.
"Estive aqui há sete ou oito meses. A maioria dos edifícios ainda estava de pé. Mas agora é absolutamente espantoso observar como uma grande parte da cidade se transformou em um terreno baldio", declarou à AFP no bairro de Sheikh Raduan, no norte da cidade.
"Agora temos um grande plano de 60 dias para intensificar o fornecimento de alimentos, distribuir um milhão de refeições por dia, começar a reconstruir o setor de saúde, instalar tendas para o inverno e reenviar centenas de milhares de crianças às escolas", explicou.
O diretor da ONU, que entrou na sexta-feira (17) no território, afirmou que o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) enfrentará uma "tarefa monumental".
"Mas devemos isso ao povo daqui, que passou por tantas coisas", completou.
- Busca por corpos -
Em toda a Faixa de Gaza, as equipes de resgate se esforçam para recuperar os corpos sepultados sob os escombros, enquanto o Hamas tenta localizar os restos mortais dos reféns israelenses que deve entregar à Cruz Vermelha, com base no acordo de cessar-fogo promovido pelos Estados Unidos.
Para ajudar na busca por cadáveres, a Turquia enviou 81 especialistas de sua agência de gestão de desastres, mas a equipe permanece bloqueada na fronteira com o Egito desde sexta-feira, informou uma fonte do governo turco à AFP.
Israel e Hamas se comprometeram com um cessar-fogo a partir de 10 de outubro para que o movimento islamista libertasse, na segunda-feira passada, os 20 reféns que ainda estavam vivos e os corpos dos 28 sequestrados falecidos.
O Hamas libertou a tempo os reféns vivos, mas entregou apenas os restos mortais de 10 reféns devido às dificuldades de encontrar e extrair os corpos das ruínas do território palestino.
Na manhã de sábado, as autoridades israelenses anunciaram que identificaram os restos mortais - entregues na noite de sexta-feira - de Eliyahu Margalit, um septuagenário assassinado durante o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 no território israelense que desencadeou a guerra em Gaza.
O Ministério da Saúde de Gaza informou que Israel devolveu os cadáveres de 15 palestinos ao território, o que eleva a 135 o total de corpos repatriados no âmbito do acordo.
O Hamas, que governa Gaza desde 2007, reiterou na sexta-feira que devolverá a Israel os cadáveres de todos os reféns que permanecem no território, mas reconheceu que o processo de restituição "poderia levar algum tempo".
O porta-voz do movimento, Hazem Qasem, afirmou que alguns falecidos "ficaram enterrados em túneis" destruídos pelo Exército israelense e "outros continuam sob os escombros de edifícios bombardeados".
Israel considera que os atrasos constituem uma violação dos termos do acordo de trégua.
O gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que "não cederá, nem poupará" esforços até o retorno de todos os reféns falecidos.
O Hamas também denuncia "diversas violações", incluindo as mortes de 37 pessoas atingidas por tiros das forças israelenses desde 10 de outubro.
A Defesa Civil de Gaza, que opera sob a autoridade do Hamas, afirmou neste sábado que recuperou os corpos de nove palestinos que, segundo a instituição, morreram na véspera em um ataque israelense contra um ônibus.
O Exército israelense informou em um comunicado que havia "identificado" um veículo "suspeito cruzando a linha amarela", em referência à linha de retirada de suas forças estabelecida no âmbito do cessar-fogo, e que os soldados, após atirar para o alto, "abriram fogo para eliminar a ameaça".
Segundo a Defesa Civil de Gaza, os corpos de mais de 280 pessoas foram encontrados sob os escombros desde a entrada em vigor da trégua. As autoridades locais calculam que há quase 10.000 corpos entre as ruínas.
- Acessos limitados -
O acordo também prevê o acesso de ajuda pela passagem de Rafah, na fronteira com o Egito, que a ONU e outras organizações humanitárias reivindicam de maneira insistente.
No momento, os acessos a Gaza, todos controlados por Israel, continuam muito limitados.
O Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU advertiu na sexta-feira que remediar a situação de fome na Faixa de Gaza "levará tempo".
As próximas etapas do plano de paz incluem um desarmamento do Hamas, a anistia ou desarmamento de seus membros e a retirada completa das forças de Israel, mas não há um acordo sobre os pontos, que ainda estão em negociações.
O ataque de 7 de outubro de 2023 deixou 1.221 mortos em Israel, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais.
A ofensiva israelense provocou mais de 67.900 mortes no território palestino, também a maioria de civis, segundo os números do Ministério da Saúde local, considerados confiáveis pela ONU.
A.M.James--TNT