
Israel condiciona reabertura de Rafah à devolução dos corpos dos reféns

O braço armado do Hamas anunciou que entregará neste sábado (18) os corpos de dois reféns mantidos na Faixa de Gaza, depois que Israel condicionou a reabertura da passagem fronteiriça de Rafah à entrega de todos os reféns falecidos.
As Brigadas Ezzedine al Qassam, anunciaram no Telegram que entregarão neste sábado, às 16h de Brasília, "os corpos de dois prisioneiros israelenses cujos restos mortais foram encontrados hoje na Faixa de Gaza", segundo indicou em comunicado.
Pouco antes, o gabinete do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu indicou que a passagem fronteiriça de Rafah, entre Gaza e Egito, só será reaberta depois que o Hamas entregue os corpos de todos os reféns mortos que ainda estão em Gaza.
A passagem com o Egito, que as agências humanitárias afirmam ser crucial para a entrada de ajuda no território palestino, permanecerá "fechada até novo aviso", acrescentou o gabinete do premiê em comunicado.
O diretor de operações humanitárias da ONU, Tom Fletcher, visitou neste sábado a Cidade de Gaza e constatou a monumental tarefa que terão as organizações de ajuda internacional para proporcionar serviços básicos e alimentos na Faixa de Gaza, devastada após dois anos de guerra.
"Estive aqui há sete ou oito meses. A maioria dos edifícios ainda estava de pé. Mas agora é absolutamente espantoso observar como grande parte da cidade se transformou em um terreno baldio", declarou Fletcher à AFP no bairro de Sheikh Raduan, no norte da cidade.
"Agora temos um grande plano de 60 dias para intensificar o fornecimento de alimentos, distribuir um milhão de refeições por dia, começar a reconstruir o setor de saúde, instalar tendas para o inverno e reenviar centenas de milhares de crianças às escolas", explicou.
O funcionário da ONU, que entrou na sexta-feira no território, afirmou que o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês) enfrentará uma "tarefa monumental".
"Mas devemos isso ao povo daqui, que passou por tantas coisas", completou.
- Busca por corpos -
Em toda a Faixa de Gaza, as equipes de resgate se esforçam para recuperar os corpos sepultados sob os escombros, enquanto o Hamas tenta localizar os restos mortais dos reféns que deve entregar a Israel.
Para ajudar na busca por cadáveres, a Turquia enviou 81 especialistas de sua agência de gestão de desastres, mas a equipe permanece bloqueada na fronteira com o Egito desde sexta-feira, informou uma fonte do governo turco à AFP.
Israel e Hamas se comprometeram com um cessar-fogo a partir de 10 de outubro para que o movimento islamista libertasse, na segunda-feira passada, todos os reféns, vivos e mortos.
O Hamas libertou a tempo os 20 reféns vivos, mas entregou apenas os restos mortais de 10 dos 28 cativos falecidos.
Na manhã deste sábado, as autoridades israelenses anunciaram que identificaram os restos mortais — entregues na noite de sexta-feira — de Eliyahu Margalit, um septuagenário assassinado durante o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 no território israelense que desencadeou a guerra em Gaza.
Por sua vez, Israel devolveu os corpos de 15 palestinos ao território, o que eleva para 135 o total de cadáveres repatriados no âmbito do acordo.
O Hamas, que governa Gaza desde 2007, reiterou na sexta-feira que devolverá a Israel os corpos de todos os reféns que permanecem no território, mas reconheceu que o processo de restituição "poderia levar algum tempo".
O porta-voz do movimento, Hazem Qassem, afirmou que alguns falecidos "ficaram enterrados em túneis" destruídos pelo Exército israelense e "outros continuam sob os escombros de edifícios bombardeados".
- 'Violações' do acordo -
O Hamas também denuncia "diversas violações", incluindo as mortes de 37 pessoas atingidas por tiros das forças israelenses desde 10 de outubro.
A Defesa Civil de Gaza, que opera sob a autoridade do Hamas, afirmou neste sábado que recuperou os corpos de nove palestinos que, segundo a instituição, morreram ontem em um ataque israelense contra um ônibus.
O Exército israelense, por sua vez, informou em comunicado que disparou contra um veículo "suspeito".
As próximas etapas do plano de paz impulsionado pelo presidente americano Donald Trump incluem um desarmamento do Hamas, a anistia ou desarmamento de seus membros e a retirada completa das forças de Israel, mas não há um acordo sobre os pontos.
O ataque de 7 de outubro de 2023 em Israel provocou a morte 1.221 pessoas, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais.
A ofensiva israelense provocou 67.967 mortes no território palestino, também civis em sua maioria, segundo os números do Ministério da Saúde local, considerados confiáveis pela ONU.
Segundo a Defesa Civil de Gaza, os corpos de mais de 280 pessoas foram encontrados sob os escombros desde a entrada em vigor da trégua. As autoridades locais calculam que há quase 10.000 corpos entre as ruínas.
A.Parker--TNT