The National Times - Macron recorre à esquerda para tentar sobreviver à crise política na França

Macron recorre à esquerda para tentar sobreviver à crise política na França


Macron recorre à esquerda para tentar sobreviver à crise política na França
Macron recorre à esquerda para tentar sobreviver à crise política na França / foto: © POOL/AFP/Arquivos

O presidente francês, Emmanuel Macron, tenta se aproximar da oposição socialista, diante da possível queda de seu segundo governo em apenas nove meses na próxima segunda-feira (8), em meio aos apelos para convocar eleições antecipadas e, inclusive, renunciar.

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O primeiro-ministro François Bayrou (centro), não conta com o apoio necessário no Parlamento para permanecer no cargo, após anunciar a supressão de dois feriados e cortes de 44 bilhões de euros (aproximadamente R$ 280 bilhões, na cotação atual) em seu projeto de orçamento para 2026.

Sua queda poderia aumentar a incerteza na segunda economia da União Europeia, em um contexto em que o custo do endividamento da França no longo prazo alcançou seu maior nível desde 2011.

Macron convocou o atual Executivo, formado por sua aliança de centro e pelo partido conservador Os Republicanos (LR), a "trabalhar com o socialistas" para evitar sua queda e inclusive depois.

O segundo cenário é o que se desenha. O líder do Partido Socialista (PS), Olivier Faure, já disse estar à "disposição" do presidente para discutir como sua formação poderia entrar em um governo, mas com condições.

- Novo governo ou eleições? -

Mas alcançar uma maioria estável não se anuncia fácil. O presidente francês provocou a atual crise política ao convocar eleições legislativas antecipadas em junho de 2024, após a vitória da extrema direita nas eleições para o Parlamento Europeu.

A antecipação eleitoral resultou em uma Assembleia Nacional (Câmara baixa) ainda mais dividida que a legislatura anterior, com três grandes blocos: a esquerda - vencedora do pleito -, a centro-direita e a extrema direita, e sem maiorias claras.

A entrada dos socialistas aproximaria o governo atual da maioria absoluta, mas o LR a rejeita: "Não podemos ter um acordo de governo com o PS", disse ao jornal Le Parisien o presidente do Senado, Gérard Larcher.

Os socialistas pedem um governo de esquerda, ainda que minoritário, e propõe um plano orçamentário com metade dos cortes sugeridos por Bayrou, assim como suspender a reforma da Previdência de 2023 e taxar mais as grandes fortunas.

Estas propostas são linhas vermelhas para a aliança de Macron, o que faz com que cada vez mais vozes, incluindo o ex-presidente conservador Nicolas Sarkozy, vejam uma nova antecipação das eleições como a única "solução".

- Renúncia? -

Mas, segundo pesquisas recentes, a realização de novas eleições tampouco resolveria a crise: a Assembleia continuaria sem maiorias estáveis, embora com uma progressão da extrema direita liderada por Marine Le Pen e uma queda do situacionismo.

Paralelamente, os franceses confiam cada vez menos em Macron para resolver a crise, segundo duas pesquisas publicadas nesta quinta-feira. O presidente bate recordes de impopularidade e o político mais valorizado é o ultradireitista Jordan Bardella.

Embora uma antecipação eleitoral não afete o presidente, cujo mandato termina em 2027, alguns políticos já pediram sua renúncia neste contexto. Nas palavras do esquerdista François Ruffin, Macron "perdeu toda a legitimidade".

A França se prepara, ainda, para viver dois dias de protestos: um impulsionado pelas redes sociais para 10 de setembro e outro liderado pelos sindicatos oito dias depois.

A incerteza também chegou aos mercados da dívida, especialmente porque o plano de Bayrou era sanear os cofres públicos, que registraram um déficit público de 5,8% do PIB em 2024 e uma dívida pública de quase 114% em março, a terceira mais alta da UE.

Os juros da dívida a 30 anos, considerados um barômetro da confiança dos investidores no longo prazo, chegaram a 4,50% na terça-feira, um limite superado pela última vez em novembro de 2011, em plena crise soberana na zona do euro.

N.Taylor--TNT