The National Times - Ser mulher 'é uma experiência violenta', diz Kristen Stewart

Ser mulher 'é uma experiência violenta', diz Kristen Stewart


Ser mulher 'é uma experiência violenta', diz Kristen Stewart
Ser mulher 'é uma experiência violenta', diz Kristen Stewart / foto: © AFP

"Mal posso esperar para fazer mais dez filmes", declara a atriz americana Kristen Stewart à AFP após sua estreia como diretora esta semana no Festival de Cinema de Cannes, com "The Chronology of Water" (A Cronologia da Água, em tradução livre).

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A produção, construída como uma colagem de imagens, narra a difícil vida da nadadora americana Lidia Yuknavitch, sobrevivente de abusos durante a infância, que escreveu sua autobiografia.

Stewart lutou por anos para conseguir realizar o projeto após constatar que os produtores consideravam o tema "realmente desinteressante".

"Não me considero parte da indústria do entretenimento", diz a estrela da saga "Crepúsculo".

A diretora conta ter ficado obcecada pela história e pelos relatos de Yuknavitch durante muito tempo.

"Eu simplesmente nunca tinha lido um livro assim, que grita para ser um filme, que precisa ser uma coisa viva", disse ela à AFP.

O fato de Yuknavitch ter sido "capaz de enfrentar coisas realmente feias, processá-las e oferecer algo com que se possa viver, algo que realmente tenha alegria" é inspirador, acrescentou.

O filme recebeu boas críticas da imprensa especializada, como Variety e The Hollywood Reporter.

- "Salva-vidas"

"A razão pela qual eu realmente queria fazer o filme é porque achei hilário, de uma forma eufórica e empolgada, como se estivéssemos contando segredos. Acho que o livro é um verdadeiro salva-vidas", disse Stewart, que também escreveu o roteiro.

"Ser mulher é uma experiência realmente violenta (...) mesmo que você não tenha o tipo de experiência extrema que mostramos no filme ou que Lidia suportou e escapou lindamente", considerou a diretora.

Stewart insistiu que não havia paralelos entre sua vida e o livro. "Não preciso ter sido abusada pelo meu pai para entender como é ter algo tirado de você, ter sua voz silenciada e não confiar em si mesma. São necessários muitos anos para que isso desapareça. Acho que esse filme ressoa em qualquer pessoa que esteja aberta e sangrando, o que representa 50% da população".

A cineasta disse aos repórteres que nunca se sentiu tentada a interpretar Yuknavitch.

Para o papel principal, escalou a atriz britânica Imogen Poots, que considera "a melhor atriz de nossa geração. É tão exuberante, bonita e realmente se abriu para este filme".

O elenco também é composto por Earl Cave, filho do cantor Nick Cave, como o primeiro marido da nadadora e Kim Gordon, da banda de rock Sonic Youth, como uma dominadora.

A energia onírica em sua produção é como "um músculo rosa pulsante", que Poots conseguiu capturar, canalizando a luta feroz, mas muitas vezes caótica, de Yuknavitch para se reconstruir e encontrar prazer e felicidade em sua vida.

O livro da nadadora "medita sobre o que a arte pode fazer por você depois que pessoas fazem coisas com seu corpo - o estupro e o roubo do desejo. O que é uma experiência muito feminina", segundo ela.

"Somente as histórias que contamos a nós mesmas nos mantêm vivas", afirmou.

Para Stewart, Yuknavitch descobriu que a única forma de recuperar o desejo era "personalizá-lo... e reutilizar as coisas que lhe foram dadas para torná-las suas".

"Não estou sendo dramática, mas, como mulheres, somos segredos ambulantes", concluiu.

G.Waters--TNT