
Segredo e especulação sobre o próximo papa a uma semana do conclave

Os cardeais da Igreja Católica retomaram, nesta quarta-feira(30), suas reuniões preparatórias para o conclave que ocorrerá em uma semana, recusando-se a revelar qualquer pista sobre o possível sucessor do papa Francisco.
Cerca de 200 "príncipes da Igreja" se encontram a portas fechadas em sua sétima reunião desde a morte do pontífice argentino para discutir as prioridades para o futuro desta instituição de 2.000 anos.
"A atmosfera é muito pacífica e cheia de diálogo", disse o cardeal colombiano Jorge Jiménez Carvajal, 83 anos, ao entrar na Sala Paulo VI, no Vaticano. "Em um conclave, não se fala em pressão ou polarizações", acrescentou.
O processo eleitoral começa em 7 de maio, quando um recorde de 133 cardeais se reúne na Capela Sistina para eleger o papa que assumirá o trono que o argentino ocupou por 12 anos.
Votarão quatro vezes por dia até que uma maioria de dois terços — pelo menos 89 cardeais — concorde com o mesmo candidato.
Em paralelo, as listas de "candidatos a papa" se multiplicam. O cardeal Pietro Parolin aparece entre os favoritos junto com o filipino Luis Antonio Tagle, o "Francisco asiático".
Mas os cardeais se recusam a dar qualquer pista sobre os nomes que estão sendo cogitados em meio à enxurrada de perguntas dos jornalistas ao entrarem no Vaticano.
- "Mundos diferentes" -
Francisco foi o primeiro papa latino-americano, com um pontificado focado nos mais pobres e marginalizados que despertou fervorosa devoção. As 400.000 pessoas que se reuniram para se despedir são um exemplo disso.
Mas o jesuíta também foi alvo de críticas de setores mais conservadores, que agora defendem uma mudança mais voltada à doutrina.
Oitenta por cento dos cardeais eleitores foram nomeados por Francisco, muitos deles localizados na periferia do mundo, em áreas historicamente negligenciadas pela Igreja.
Muitos dos cardeais não se conhecem. Essas reuniões servem para começar a formar uma opinião sobre o próximo titular da Cátedra de São Pedro.
"Ouvimos pessoas das quais talvez nunca tenhamos ouvido falar antes (...) e isso nos dá orientação", disse à AFP o cardeal espanhol Cristóbal López Romero, arcebispo de Rabat.
"Quando uma pessoa fala, ela se retrata; digamos que ela se mostra, não consegue esconder isso."
Um cardeal eleitor europeu, que pediu para não ser identificado, disse que ficou impressionado com a diversidade entre os chamados para eleger o novo papa.
"Quando africanos ou sul-americanos falam são de mundos diferentes. Não são exatamente opostos, mas temos uma visão muito eurocêntrica", disse. "Vemos que não temos as mesmas prioridades".
Nas reuniões, chamadas "congregações gerais", nós "ouvimos, tentamos entender" as questões antes de decidir sobre uma pessoa para a próxima semana.
- "Papa mais radical" -
As reuniões entre os cardeais abordam um tema diferente a cada dia. Não haverá reunião na quinta-feira porque é feriado na Itália; as negociações recomeçam na sexta-feira.
O Vaticano informou que na segunda-feira, por exemplo, eles esboçaram os desafios mais urgentes do catolicismo, incluindo "evangelização, relações com outras religiões" e também o flagelo do abuso sexual infantil por clérigos.
Na terça-feira, o foco foi "o papel da Igreja no mundo de hoje e os desafios que enfrenta", enquanto nesta quarta-feira, as discussões se concentram na questão espinhosa da situação econômica e financeira do Vaticano.
O escritor espanhol Javier Cercas, que escreveu um livro sobre uma viagem com Francisco, acredita que o próximo papa será um reformista mais moderado do que Jorge Bergoglio ou um conservador que se passe por reformista, mas que na verdade "freia" qualquer mudança.
"Não haverá um papa mais radical do que (...) precisamos", disse à AFP em Bogotá o autor de 'El loco de Dios en el fin del mundo', que chama o pontífice de "revolucionário", embora reconheça que não implementou mudanças significativas na Igreja.
"As pequenas reformas que Francisco conseguiu implementar geraram uma resistência brutal".
M.Wilson--TNT